segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sarney usou helicóptero da PM do Maranhão em viagem particular

altO tetrapresidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) serviu-se de um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão para passear na ilha do Curupu, de sua propriedade.
A transgressão ocorreu uma, duas vezes. Ambas em 2011, informam os repórteres Felipe Seligman e João Carlos Magalhães.
Para azar de Sarney, um cinegrafista amador registrou a utilização do bem público com propósitos privados.
O senador e seus acompanhantes foram filmados em trajes de passeio no instante em que desembarcavam no heliponto Polícia Militar em São Luís.
As primeiras imagens foram captadas em 26 de junho. As outras, em 10 de julho. Dois domingos.
Numa das viagens, além da mulher, Marli, acompanhava Sarney um casal de amigos: o empresário Henry Duailibe Filho e a mulher dele, Cláudia.
Henry é primo de Jorge Murad, marido da governadora maranhense Rosenana Sarney (PMDB).
Dono de uma construtora e de uma concessionária de automóveis, Henry mantém com o governo do Maranhão contratos milionários. Coisa de R$ 70 milhões.
altO helicóptero usado por Sarney em seus passeios foi comprado no ano passado. Serve –ou deveria servir— para combater o crime e prestar socorro emergências médicas.
Custou R$ 16,5 milhões. Uma parte saiu do bolso do contribuinte do Maranhão. A outra, foi provida pelo contribuinte federal, representado pelo Ministério da Justiça.
Ao discursar na cerimônia de entrega da aeronave, Roseana Sarney jactou-se:
É "uma demonstração [de] que estamos investindo em uma polícia moderna, [...] afastando de vez a bandidagem" do Maranhão.
No dia 10 de julho, um dos domingos em que Sarney foi pilhado desembarcando do helicóptero anti-bandidagem, retardou-se o atendimento a um acidentado.
O pedreiro Anderson Ferreira Pereira acidentara-se gravemente. Sofrera traumatismo craniano. Fraturara a clavícula.
Socorrido por outro helicóptero da PM, Anderson acabara de chegar de Alcântara, cidade distante de São Luís 53 km.
Acompanhado da irmã, Rosângela Pereira, o pedreiro teve de esperar dez minutos para que sua maca fosse acomodada na ambulância que o levaria ao hospital.
  Lula Marques/FolhaaltO desembarque das malas de Sarney e seus acompanhantes teve preferência sobre o atendimento ao acidentado.
Procurado pela reportagem, Sarney manifestou-se por meio de assessores. Alegou o seguinte:
Tem "direito a transporte de representação e segurança em todo o território nacional, seja no âmbito federal ou estadual, sem restrição às viagens de serviço."
A assessoria senador invocou o artigo 2º da Constituição, cujo conteúdo não parece fazer nexo com o caso.
Nesse trecho, o texto constitucional anota: "São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário."
De resto, a assessoria de Sarney afirmou: "A viagem foi feita à ilha de Curupu a convite da governadora do Maranhão, Roseana Sarney."
Quer dizer: a aeronave do contribuinte levou Sarney até a ilha dos Sarney a convite da Sarney que governa o Estado famoso pelo domínio da família Sarney.
A assessoria do presidente do Senado não disse palavra sobre a presença num dos vôos do empresário que mantém negócios com o Estado.
Nada disse também sobre o retardamento do socorro ao pedreiro acidentado.
A Lei de Improbidade Administrativa sujeita os políticos que usam bens públicos em "obra ou serviço particular" à perda da função e suspensão dos direitos políticos.
Uma lei estadual do Maranhão, de 1993, "a utilização de veículos oficiais em caráter pessoal."
O texto não faz menção aos helicópteros. Mas aeronaves da PM, até prova em contrário, também são “veículos oficiais.”

Garimpo de Roosevelt é uma bomba prestes a explodir, alerta MPF/RO

Parentes que vivem em situação de penúria e pessoas ávidas em explorar os diamantes, incluindo quadrilhas internacionais, pressionam lideranças indígenas que paralisaram o garimpo há um ano, acreditando em promessas do governo
João Bravo (em pé) reclamou da falta de dinheiro para almoçar, durante a reunião - Foto J. Gomes
Há um ano e dois meses, o garimpo de diamantes da Terra Indígena (TI) Roosevelt, território tradicional do povo Cinta Larga, em Cacoal (RO), está paralisado. A região conta com o que é considerado como a  mais rica mina de diamantes do mundo, cuja exploração ilegal já provocou cerca de 100 mortes e que foi palco em 2004 das mortes de 29 garimpeiros, efetuadas pelos indígenas. Apesar da escolta da Polícia Federal que mantém barreiras nas principais entradas da TI, a paralisação do garimpo deve-se a uma decisão tomada pelos próprios índios, que aprenderam a duras penas que a exploração dos diamantes pode provocar a total desagregação social do seu povo. Lideranças Cinta Larga paralisaram o garimpo acreditando na promessa de implementação de  um planejamento de vida que atendam as necessidades básicas  para uma vida digna dentro da TI, até que a lei que regulamenta a exploração de minerais em terras indígenas saia da gaveta na Câmara Federal, onde aguarda uma decisão dos deputados desde 1999. Sem a contrapartida do governo no acordo, as lideranças indígenas que o acataram sofrem pressões de todos os lados – dos parentes, que vivem em situação de penúria e não acreditam mais nas promessas dos colonizadores, e de uma variada rede de pessoas, empresas e entidade, ávidas pelas pedras preciosas, incluindo perigosos bandidos internacionais.
“Embora se assemelhe a uma bomba prestes a explodir, a situação é cômoda para o governo, já que o garimpo está paralisado. Só serão tomadas providências quando houver uma morte”, profetizou o Procurador-Geral do Ministério Público Federal de Rondônia (MPF/RO), Reginaldo Trindade, durante encontro convocado pelo MPF com a bancada federal do Estado, realizada na última sexta-feira (19/08), para pedir apoio dos parlamentares contra o iminente retorno do garimpo e uma nova explosão da violência, “o que pode ser o fim do povo Cinta Larga”, segundo Trindade.
O garimpo de Roosevelt existe há muito tempo, mas a exploração dos diamantes foi intensificada em 2000/ 2002. Em 2004, a região ficou mundialmente conhecida pelas mortes de 29 garimpeiros, provocadas pelos índios. As mortes repercutiram com grande intensidade na opinião pública internacional e foi estabelecida uma força tarefa –ratificada pelo presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, e mais três ministros, encarregada de elaborar e implementar um plano de vida digno e sustentável para os Cinta Larga, para garantir a paralisação do garimpo, além da fiscalização da área. Este mesmo plano ainda hoje é aguardado na TI.
Repressão
“Na Força Tarefa criada em 2004 só ficou a Polícia Federal, que mantém barreiras nas principais
Mauro Marcelo Cinta Larga defende seu povo durante reunião com parlamentares - Foto J. Gomes
entradas da TI e constantemente serve de reclamação para os indígenas, que denunciam ações truculentas durante as revistas obrigatórias para entrar nas aldeias”, acusa Reginaldo Trindade.
A aplicação equivocada dos recursos públicos destinados aos Cinta Larga é uma das maiores queixas dos indígenas, já denunciada em diversas instâncias. O MPF/RO aponta uma “abissal diferença” entre o montante destinado à repressão e aos programas sociais, econômicos e culturais que os índios necessitam. O Governo Federal aplicou em ações da Policia Federal, no período de 2006 a 2009, R$ 28 milhões e 430 mil, com valores em escala ascendente a cada ano. Já os programas sociais, de acordo com a Funai, tiveram um investimento de R$ 469 mil em 2008 e de R$ 649 mil em 2009, sendo que parte considerável dos mesmos foi aplicada em despesas indiretas, como pagamento de diárias e de combustível. No biênio 2008/2009, as ações repressivas somaram um montante de R$ 7 milhões/ano, sendo que para a Funai foi destinado 10% destes investimentos.
Funai
Embora convidada para a reunião com os parlamentares, a Funai, duramente criticada durante o encontro, não compareceu. A bancada foi representada pelo senador Valdir Raupp e os deputados Padre Tom – integrante da Frente Parlamentar dos Povos Indígenas, Carlos Magno, Marinha Raupp, Mauro Nazif e Lindomar Garçon. Já os Cinta Larga foram representados pelas lideranças  Nacoça Pio, Mauro Marcelo e Touro Bravo.
Durante a reunião, o cacique João Bravo reclamou que não tinha dinheiro para almoçar. A Funai se negou a pagar as despesas do deslocamento dos três indígenas para o encontro com os parlamentares na sede do Sipam. Eles pagaram as passagens para viajar de Cacoal até Porto Velho e não tinham dinheiro para as refeições nem a estadia. “Só vim porque o procurador Reginaldo Trindade, que está com a gente há muito tempo, disse que era importante. Mas espero que esta não seja só mais uma reunião das tantas a que eu já compareci, só com promessas não atendidas”, disse ele.
Procurador Geral do MPF/RO, Reginaldo Trindade, busca apoio de parlamentares para "luta inglória pela sobrevivência do povo Cinta Larga" - Foto assessoria de imprensa
Durante o encontro com os parlamentares, ficou decidido que será realizada um segundo encontro em Brasília, reunindo as bancadas federais de Rondônia e Acre e representantes dos Cinta Larga que vivem nos dois Estados. Na ocasião, os parlamentares  serão convidados a analisar e assinar uma carta de apoio à luta do povo cinta larga, cuja minuta foi apresentada durante encontro no Sipam, em que se comprometem a cumprir uma série de reivindicações, entre as quais se destacam o direito dos  indígenas de se manifestarem sobre qualquer decisão que diga respeito à exploração do garimpo e outros assuntos que se refiram à Terra Indígena Cinta Larga.
O documento também assinala a necessidade urgente de implantação de um programa com ações sociais, econômicas e culturais na TI e uma mudança no destino dos investimentos destinados às aldeias. Ao invés de recursos para a repressão, os Cinta Larga querem educação, saúde e meios de se sustentar com dignidade em suas terras.
Ana Aranda/Amazônia da Gente

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CURUBA NÃO SE TRATA COÇANDO

POR JOSÉ CARLOS DOS REIS MEIRELLES
Direto da Frente de Proteção Etnoambiental Xinane, na fronteira Brasil-Peru

Companheiros,

ontem eu estava meio "mordido de caititu" e espoletei. Com razão, creio.

Hoje, sendo mais frio e menos emotivo (se é que é possível pra mim não sê-lo em falar dos parentes brabos), a situação aqui ainda não está resolvida, existem muitas dúvidas a serem esclarecidas.

Afinal o que esse povo e o português preso faziam por aqui?

Creio que existem ainda pessoas desse grupo escondidos aqui por perto, esperando a poeira baixar.

Sendo otimista e achando que o Exército com seu Batalhão de Selva resolva sair do quartel e, em vez de passar o dia aparando a grama dos jardins do quartel, resolva repuxar cipó aqui nas matas pra ver se encontra, ou espanta de vez esses traficantes. Mas isso é como tratar curuba coçando-a, ou carregar água em paneiro.

O problema aqui é bem maior, extrapola os limites internacionais do Brasil e a própria competência da Funai. Não estou dizendo que isso é exclusivo do Peru. Temos, dentro de nosso território, todo tipo de agressão a índios isolados ou não. Mas nas faixas de fronteira (e este é um caso emblemático) as desgraças podem vir daqui ou de lá. Agora é do Peru.

Como proteger os isolados, que usam tanto o território brasileiro como o peruano, transitam em suas terras pra lá e pra cá desta linha imaginária que traçamos, para dividir os dois países - o paralelo 10º Sul? Ou os dois países tratam desse assunto conjuntamente, colocando nas agendas binacionais os índios, isolados ou não, protegendo suas vidas e territórios, ou teremos uma fronteira de brancos e índios, todos atolados até o pescoço na exploração ilegal de madeira, no tráfego de cocaína, ou sei lá mais em que atividade ilegal.

Estes vastos territórios, que à vista grossa parecem terra de ninguém têm dono: os índios.

Desde 2006 venho alertando para a movimentação de madeireiros nas cabeceiras do Rio Envira, no Peru, e o perigo para os isolados. E a exploração lá se dá em uma reserva para isolados, Murunahua.

Tive a oportunidade de, junto com o presidente da Funai, Márcio Meira, visitarmos a embaixada do Peru em Brasília, alertando o embaixador das consequências da exploração ilegal de madeira na reserva Murunaua.

Também estivemos juntos em Pucalpa, tratando do mesmo assunto com ONGs e representantes do governo peruano. Pregamos no deserto, tipo São João Batista. E pelo andar da carruagem,
começaremos e comer gafanhotos.

Não sou mais funcionário da Funai. Trabalho no governo do Acre, a convite do governador Tião Viana, que, diga-se de passagem, tem dado todo apoio possível para sairmos da crise em que nos encontramos. Estou aqui na Base do Xinane dando minha modesta colaboração a todos que aqui estão, pela longa vivência de 22 anos que residi aqui nas cabeceiras do Envira, nesta mesma base.

Quero deixar claro também que não fizemos as operações como o esperado, não por culpa das pessoas que aqui estiveram, da PF e do BOPE. Todos eles têm vontade de ganhar a mata com nossos mateiros e resolver a questão. Assim também o pessoal da Força Nacional que aqui se encontra.

O que precisam é de ordem expressa de seus comandos. Fica o registro para sanar os maus entendidos.

Finalizando faço um apelo às autoridades maiores de meu país: ganhem um pouco de tempo e pensem na responsabilidade que é ter em suas mãos o destino de povos que vivem autônomos nestas matas. Assustados, talvez assassinados (como se isso fosse novidade para eles) e sem o menor conhecimento que nem futuro poderão ter, se o Estado Brasileiro decidir que o que acontece aqui é uma crise momentânea.

Lembrem-se da sabedoria das matas: curuba não se trata coçando. Ela vai aumentar, piorar e apostemar.

Seres humanos não merecem esse tipo de tratamento.

Um grande abraço a todos.

José Carlos dos Reis Meirelles é sertanista

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

AS DUAS MORTES DO VOVÔ

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

O velho Cabral estava lendo o jornal “O Trabalhista”, sentado numa cadeira de balanço, daquelas de macarrão, na varanda de sua casa, na Rua Cláudio Mesquita, em Manaus. De repente, começou a rir, inicialmente de forma discreta, contida, mas o acesso de riso foi crescendo, se avolumou, se apoderou de seu corpo que balançava, em convulsão. A gargalhada sonora, capaz de matar de inveja a Fafá de Belém em seus dias mais hilariantes, ecoou por todo o seringal Mirim. Ele riu, riu, riu, mas riu tanto que morreu de rir. Literalmente. Teve um ataque fulminante do coração. Tombou já sem vida.

- O vovô morreu – gritou Huguinho Reis, muito assustado.

Minto, estamos na década de 50, Huguinho não era nem nascido. Quem gritou, já de olho em uma das netas com quem depois acabou casando, foi o Ferreti, que viu o velho esticar as canelas. O vovô era capaz de rir desbragadamente como a Fafá, mas não possuía, que nem ela, um cofre enorme para guardar tanto riso, por isso o peito dele não aguentou. Explodiu. O corpo desabou, junto com os óculos, sobre o jornal, cuja manchete panfletária berrava em letras garrafais: “ABAIXO O CABELEIRA, O MAIOR LALAU DA CERA”.

Cabeleira era o apelido do ex-governador Álvaro Maia. CERA, a Comissão de Estradas de Rodagem do Amazonas, que depois se transformou em Departamento, mudando a sigla para DERA, o precursor do DNIT. E “O Trabalhista” era o jornal do PTB, liderado na época por Plínio Coelho, que baixava o sarrafo denunciando a corrupção, embora Álvaro Maia fosse um poço de virtudes se comparado ao filho do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, cujo enriquecimento foi galopante.

No velório do velho Cabral, lá na Funerária Almir Neves, que acabou sendo divertido, com todo o respeito, vinha a clássica pergunta:

- Ele morreu de quê?

Os parentes, no meio da dor e do sofrimento, explicavam, e aí ninguém aguentava, as pessoas começavam a rir e queriam saber mais:

- Morreu rindo, mas rindo de quê?

Mistério

Pois é, rindo de quê? Um mistério. Ninguém entendia. Até hoje ninguém sabe, nem mesmo uma das netas do velho Cabral, a Rosilene Odina, que me contou, ontem, por telefone, com riqueza de detalhes essa história absolutamente verdadeira, testemunhada por várias pessoas que estão vivas e são dignas de fé.

Ela diz que o velho Cabral fazia parte da ala que os opositores da UDN e do PSD chamavam de “canalha da quinta coluna petebo-comunista” e que provavelmente o ataque de riso fora provocado pela notícia sobre a corrupção nos transportes.

Mas qual é a graça que pode ter a corrupção? Num exercício especulativo, podemos ressuscitar o velho Cabral, colocando-o diante do noticiário dessa semana no “Diário do Amazonas”. Vamos lá. Ele abre o jornal e lê a manchete: “Policia Federal prende 36 pessoas por desvios de recursos do Turismo”.

No corpo da notícia, o velho Cabral é informado que no ano de 2010 desembarcaram 459 turistas estrangeiros no Amapá. Considerando que o Airbus A-330 pode transportar até 475 passageiros em cada voo, o total de turistas que entraram no Amapá durante um ano inteiro não lotaria um avião numa única viagem. O Amapá participa com 0,001% - eu falei zero vírgula zero, zero um por cento - dos que embarcam em voos internacionais no Brasil e 0,005% dos que desembarcam. O fluxo de passageiros nos voos nacionais é igualmente irrisório.

Dos 8.956 guias de turismo existentes no Brasil, apenas 18 atuam no Amapá, cujos hotéis, pousadas e flats somam 19 unidades. No entanto, o Ministério do Turismo não hesitou em aprovar um megaprojeto de cursos de capacitação para os guias do Amapá. Assinou três convênios suspeitos no valor de R$ 17,7 milhões – eu falei dezessete milhões e setecentos mil - com uma ONG, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), que sequer ministrou os cursos, mas embolsou o dinheiro. Aqui o velho Cabral começa a rir.

Continua lendo que as verbas foram desviadas, com orientação do próprio secretário-executivo do Ministério do Turismo, que ensinou a um empresário como montar um negócio de fachada para enganar a instituição. O riso do velho Cabral aumenta ao saber, ainda, que quem defende os membros da ONG fraudulenta é o escritório do filho do ministro do TCU, que teve acesso prévio à acusação.

Vovô Cabral começa a gargalhar quando toma conhecimento de que a autora da emenda que deu origem aos recursos desviados é a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), acusada de embolsar parte da grana. A deputada jura que não conhece o Ibrasi, que escolheu essa ONG para desovar a bufunfa, porque soube de sua existência através de panfleto distribuído em evento do Ministério do Turismo. Aí as gargalhadas tomam conta do corpo do velho Cabral.

Os membros da quadrilha do Turismo foram presos. O avô de Rosi Odina vê na televisão o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), criticar como “um exagero” a prisão do ex-deputado pelo PMDB, Colbert Soares e dizer que “o uso das algemas pegou muito mal”. Aí, o vovô lê as declarações da ministra de Relações Institucionais Ideli Salvatti e do ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, primo do Collor de Mello, ambos condenando como abuso a utilização de algemas nos presos e que isso “leva as pessoas a pensarem que o caso é mais grave do que é”.

Crime hediondo

O velho Cabral começa a ter convulsões de tanto rir. Ele constata que todos os envolvidos com corrupção nos ministérios do Turismo, da Agricultura e dos Transportes são indicações dos partidos aliados do governo, que milhões de reais foram sugados do erário público, num escândalo envolvendo altos funcionários e que o vice-presidente da República, a ministra e o ministro que se apressaram em condenar as algemas esqueceram-se de externar qualquer indignação contra o roubo.

Seu riso fica igual ao da Fafá quando lê as outras notícias: “CPI no Paraná descobre rombo de R$ 491 milhões no Porto de Paranaguá, um dos gestores era o irmão do ex-governador Requião”. “Prefeito de Belo Horizonte gasta R$ 900 mil com jatinhos”. “Ministro do Turismo, Pedro Novais, indicado por Sarney, paga motel com dinheiro público”. “Cunhado do governador de SP, Alkmin, denunciado por fraude em escola de Pindamonhagaba”. Não escapam nem os militares: “Fraude no Instituto Militar de Engenharia tem cinco generais sob suspeita”.

É aqui que o velho Cabral morre pela segunda vez, de tanto rir, quando lê que o líder do DEM na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto – logo quem? - é que quer investigar os corruptos. Consciente de que o desvio dessas verbas é responsável pelos médicos mal pagos, pelas ambulâncias abandonadas, pelos hospitais sem equipamentos e pelos remédios com validade vencida, o velho Cabral morre outra vez antes de saber do lançamento da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção coordenada pelos deputados Francisco Praciano (PT-AM), Paulo Rubem (PDT-PE), Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) e Alessandro Molan (PT/RJ).

A Frente quer que a Câmara aprove projeto tornando crime hediondo os casos de desvios de verbas destinadas à saúde, educação, compra de medicamentos, merenda escolar e saneamento básico. Já morto, vovô Cabral não leu o relatório “Corrupção: custos econômicos e propostas de combate” da Federação das Indústrias de São Paulo, mostrando que se a corrupção fosse reduzida, a quantidade de leitos nos hospitais públicos poderia subir de 367 mil para 694 mil, se poderia construir moradias para 3 milhões de famílias ou levar saneamento básico para 23 milhões de domicílios.

É assim que vovô Cabral morre outra vez, rindo. Rindo de quê? Da nossa própria desgraça coletiva, do fato de boa parte dos homens que ocupam cargos públicos serem verdadeiros bandidos que provocam protestos de indignação quando são algemados. O vovô Cabral morre com saudades do jornal “O Trabalhista”.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Escreve no Taqui pra ti.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pelado...nú com a mão no bolso

Não sei o que passou na cabeça de um bombeiro militar do Rio de Janeiro, agora há pouco na entrada do anexo III da Câmara dos Deputados. Gritando palavras de ordem e que a Constituição autorizava o ir e vir, os militares queriam forçar a entrada do grupo na Casa.

Impedidos de entrar, alguns bombeiros revoltaram-se e um deles ameaçou tirar a roupa como forma de protesto.

No final os ânimos foram acalmados e eles voltaram para os locais de acampamento.

Bombeiros militares querem aprovar PEC e acampam na Câmara dos Deputados

Os policiais militares e bombeiros militares que estão acampados desde ontem nos estacionamentos da Câmara dos Deputados iniciaram o dia com carnaval e samba, tentando sensibilizar os parlamentares a votarem pela isonomia salarial das suas categorias.

Ontem, depois de tentarem entrar no Plenário da Câmara, "na marra" e serem impedidos pelos seguranças da Csa, eles foram impedidos de entrar nas dependências da Câmara, tendo que permanecer do lado de fora do prédio, aguardando qualquer solução para a votação de sua PEC.
Uma verdadeira "barricada" foi montada pela Polícia Legislativa nas entradas do prédio principal e anexos II e III da Câmara. Vamos ver como ficam as coisas no restante do dia...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Grupo paramilitar peruano cerca equipe da Funai na fronteira

(Altino Machado)
A equipe decidiu permanecer na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira/Foto: Blog da Amazônia
A equipe decidiu permanecer na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira/Foto: Blog da Amazônia

Funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) permanecem cercados por um grupo paramilitar peruano que invadiu o território brasileiro, na fronteira do Acre com o Peru. Os peruanos estão armados com fuzis e metralhadoras.

Os quatro funcionários e o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que trabalha para eles, foram levados em helicóptero durante operação da Polícia Federal nesta sexta-feira (5).

A equipe decidiu permanecer na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, mantida pela Funai no igarapé Xinane, na tentativa de proteger os índios isolados da região.

Com base nos vestígios encontrados na floresta, a equipe da Funai estima a presença de pelo menos cinco homens em mais de um grupo paramilitar.

Os peruanos rondam a base e deixam os funcionários em situação de extrema vulnerabilidade em caso de conflito armado. A situação não depende mais da ação da Funai, pois se configura uma questão de segurança nacional.

- Estamos ainda com os peruanos próximos nos espreitando. Avistamos rastros de seis pessoas hoje cedo, atrás da base. Estamos apenas com uma espingarda velha e dois rifles calibre 22. Mas se tem o pessoal da PF aqui, a gente tinha pego os invasores hoje - relatou o chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai, Carlos Travassos.

A equipe da Funai na Frente de Proteção Etnoambiental dispões de telefone e computador conectado à internet.

- O tempo nosso em frente ao computador está curto. Não é fácil ficar com um olho no monitor e outro nos peruanos. Eles estão ainda aqui. São mais de um grupo, de cinco ou seis pessoas. Estão nos monitorando e nós a eles. A galera que está aqui é toda mansa na mata. Mas a chapa está quente. Mande bala aí, como puder. Temos internet e telefone por aqui - relatou o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles ao Blog da Amazônia.

A documentarista Maria Emília Coelho, que sobrevoou a região durante operação da  Polícia Federal na sexta, disse que os funcionários da Funai se queixam que a PF não permaneceu na base para garantir a proteção da fronteira.


Apelo

O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles divulgou nesta tarde uma mensagem sobre a situação na área:

“A todos,

Vocês já sabem das notícias. Vão as últimas.

Desculpem por mandar pra todo mundo, mas o tempo pra ficar no notebook aqui tá curto. Um olho na tela e outro nos peruanos não dá.

Seguinte:

1 - Pela quantidade de vestígios aqui ao redor, temos certeza que os caras se dividiram em grupos de 5 ou 6 e estão fazendo uma verdadeira varredura aqui ao redor da base.

2 - Os isolados não andaram aqui não. As coisas que desapareceram daqui indicam que não foram eles.

3 - Cremos também que junto desses peruanos existam índios sim, contatados de lá.

4 - A gente conhece apito de índio remedando bicho. Parece que tem uma reunião de nambú azul aqui por perto.

5 - Se esses caras estão procurando alguma coisa, ainda não acharam.

6 - Todo mundo que está aqui ( nós cinco gatos pingados) é manso na mata, como eles.

7 - O nome de nosso dois mateiros: Francisco Alves da Silva Castro o  Marreta. Francisco de Assis Martins de Oliveira - O Chicão.

8 - O dia que a Funai descobrir que um homem como eles, valem por 20 indigenistas e 20 sertanistas, talvez resolva contratá-los, sem concurso público, pois são analfabetos, mas os maiores doutores da mata que conheço, talvez a segurança dos índios isolados possa ser melhor conduzida.

Permaneceremos aqui, dê o que dê, até que o Estado Brasileiro decida RESOLVER DE VEZ esse absurdo!!!! Não pra proteção nossa.

PARA PROTEÇÃO DOS ÍNDIOS!!!!!!

Quem não tiver atualizado, por favor procure sites e tal que já tá no mundo.

Quem puder reclamar, pressionar etc., será bem vindo. Os isolado agradecem.

Um grande abraço a todos da nossa equipe de ” irresponsáveis”, como estamos sendo chamados.

Pensem bem: Quem é o irresponsável mesmo.

Meirelles”